Tentar ver tudo sempre de um modo diferente. Simples, mas nada fácil.
Nós sempre nos acostumamos com uma certa rotina, e assim procuramos estabelecer padrões de ação e reação. Meticulosidade, calculismo. E aos poucos nossa vida vai se tornando medíocre.
Outro dia conversando com um amigo, ele me contou sobre uma teoria sobre a relação entre tempo, espaço e memória no nosso cérebro.
Quando passamos por um caminho pela primeira vez, parece demorar uma eternidade. E depois de acostumados a tal caminho, parece que mesmo percorrendo ele no mesmo espaço de tempo, o tempo é menor. Isso acontece devido ao nosso cérebro armazenar as situações, imagens, sons, que são diferentes, ou seja, o estado de atenção é muito maior da primeira do que qualquer outra das vezes decorrentes. Assim, depois da memória estar estabelecida e houver menos coisas "impressionantes" a serem catalogadas, a atenção é menor, e nossa noção de espaço e tempo é alterada.
Fazemos isso todos os dias não? E os dias passam cada vez mais rápido. E envelhecemos cada vez mais rápido. E de repente, há pessoas à sua volta que morrem, outras se casam, outras nascem, e quando paramos, só vemos fatos e momentos marcando a nossa vida. Fatos e momentos que não conseguimos nem lembrar direito de como ocorreu e das pessoas envolvidas... Apenas fatos e momentos...
Hábitos e rotinas. E nada mais...
E isso acontece em tudo. Ao pegar um ônibus, ao conversar com uma velhinha no metrô, ao olhar pra uma garota bonita, ao prestar atenção na sala de aula, ao replicar uma ofensa sofrida, ao defender um pensamento ou uma pessoa, ao se apaixonar que alguém (provavelmente alguns irão descordar nesse aspecto, mas nós também criamos uma forma de controle doentio e inconsciente de nossos sentimentos), ao se desapaixonar por alguém, ao gritar como um bárbaro a puros pulmões para expressar raivas e frustrações, etc... etc... etc...
E a única coisa que nos impede de transformar tudo isso ( digo transformar, não ir contra, não lutar, pois não acredito que negar ou sublimar algo que é parte da integridade da mente humana vá resolver algo) é a falta de coragem para atravessar essa barreira, essa muralha que críamos em torno da torre de nossas vidas.
E o esforço nem é tão grande. O que tem além dessas muralhas não é nada de tão assustador assim.
Há milhões de coisas únicas e extraordinárias acontecendo ao mesmo tempo à nossa vida. Basta abrir os olhos e ver. Limpar os ouvidos e ouvir. Tentar olhar tudo de novo a cada dia, e ver o que mudou de ontem pra hoje. Olharmos para nós mesmos e ver que mudamos, e se não, é só tomar uma atitude diferente. Aulas de dança, uma briga num bar, ficar com alguém completamente inesperado, ir num show de uma banda da qual se gosta, ir no show de uma que da qual não gosta. Fazer diferente. Viver diferente...
A única coisa que temos a perder é nosso tempo...
5 comentários:
Eu acho que cada vez que a gente faz algo diferente (tomamos café em um lugar novo, shows de bandas ruins e bla bla bla) a gente acaba ganhando um tempo. Ou roubando de volta pra gente aquilo que a rotina queria levar...
Domingo que vem então? Tem mais no fim de semana. =)
é, to perdendo muito tempo...
Eu ainda acho que a rotina é mal compreendida...
É incrível como as teorias cognitivas me deram mais certeza de uma idéia filosófica: perplexidade é o grande valor e motivo da juventude.
O difícil é nutrir uma constante perplexidade sem errar pelo excesso de desordem. Sim, eu confundo novidade com desordem. Sim, eu venho do século XVIII.
Nos acostumamos tanto a olhar as mesmas coisas que não damos valor ao que vemos, a beleza que existe além da rotina...
Depois eu vou te mandar um texto que li essa semana, tem muito a ver com o que você escreveu... Não sei se você já leu mas em todo caso, o texto chama "Três dias para ver" e a autora é Helen Keller. Mando no seu email.
Beijos.
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